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O que vou fazer da minha vida? Alguns questionamentos sobre trabalho, carreira e prazer (sim, você leu isso mesmo!)

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Parece que a nova geração de jovens voltou a questionar o que a minha geração deixou passar batido: o que é o trabalho, qual é o seu objetivo e qual caminho vou percorrer nesta vida.

Sei que é clichê e até meio piegas falar sobre seguir o coração e tal, chutar o balde e buscar algo apaixonante que te dê inspiração para acordar todos os dias, ir lá, matar meia dúzia de leões e voltar para casa com a sensação de prazer por fazer algo no qual você acredita e gosta. Mas, às vezes ainda me pego pensando na coluna do Kanitz na Veja sobre gostar do que se faz (http://blog.kanitz.com.br/fazer-gosta/) e da coragem do DeMaio (http://stevendemaio.wordpress.com/) – xarás que discutem sobre a relação entre trabalho e vida. Inclusive, escrevi algumas coisas no meu antigo blog sobre o assunto (http://projetoalpha.blogspot.com.br/search/label/Carreira).

A questão é que ainda não tenho respostas, apenas perguntas e um incômodo sobre a forma como nossa sociedade encara o trabalho e os artifícios de controle social que nos pressionam a adotar certos comportamentos e realizar escolhas nem sempre saudáveis mesmo quando temos recursos suficientes para nos manter a partir de outras configurações produtivas (http://movimentozeitgeist.com.br/conheca-o-movimento/movimento-faq).

Ok… é verdade o que Kanitz diz a respeito de fazermos coisas chatas e procurarmos aspectos positivos no que fazemos. A minha grande dúvida, e creio que de outras pessoas também, é o ponto de equilíbrio nisso tudo. Não sei se o trabalho tem que ser algo assim tão prospectivo: faço hoje pensando no futuro… Caramba! E se o “hoje” ficar árduo por muito tempo ou insuportável, o que vou fazer?

E é aí que começa a força da pressão e da cobrança. Esse “o que vou fazer” muitas vezes é acompanhado por “o que minha família, meus amigos e meus colegas vão pensar se eu escolher ______________”. Sinta-se a vontade para preencher a lacuna com o que você quiser.

Ter um foco imediatista pode colocar a pessoa em risco nestes assuntos de carreira e trabalho da mesma maneira que adiar continuamente a recompensa “… porque no futuro blá-blá-blá” nos molda como zumbis alienados em busca de um sonho capitalista de acumulação. Nem tanto ao céu da ética protestante do “aqui se faz, aqui se recebe”, nem tanto ao inferno da mais-valia marxista. De uma coisa não abro mão: não quero viver para trabalhar, quero trabalhar para viver.

Não estou aqui para te dar respostas. Nem tenho certeza das perguntas e reflexões feitas acima. São apenas questões que acredito serem importantes para mim e, talvez, para você e algumas pessoas, como as dos vídeos do Continue Curioso (http://www.youtube.com/user/continuecurioso).

Então, o que você vai fazer da sua vida?

Deixe seu comentário e compartilhe com a gente como você lida com sua vida, sua carreira.

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Seminário “Trabalho, poder e gênero nas organizações”

Realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Espírito Santo.

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18/02/2013 · 15:01

A ética e a estética do cabelo (e do resto do corpo)

O tema deste post pode parecer estranho para o leitor. Como assim ética do cabelo?

Pensar na estética, na forma, na beleza inerente aos corpos é corrente no cotidiano brasileiro. Estamos entre os que mais fazem cirurgias plásticas estéticas no mundo [leia artigo sobre mídia, satisfação com corpo e cirurgia plástica]. Somos um povo que preza pela questão estética: mudamos nossos corpos, mudamos nós mesmos, faz parte de nossos costumes.

É ingênuo considerar o corpo apenas no seu tangível biológico. O corpo não é apenas um corpo, o corpo é linguagem, ele é ideologia. O corpo e suas extensões e modificações (adereços, roupas, tatuagens, perfurações e afins) falam de nossos valores, nossas crenças.

O corpo é instrumento político de dominação e libertação. As normas compartilhadas na cultura pregam orientações sobre a maneira “correta”, socialmente adequada de nos portarmos, mas como poderíamos adequar o/ao corpo?

Será que falar que tal tipo de cabelo, pele, ou qualquer outro quesito anatômico é apenas uma questão de gosto? O que está além das palavras?

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A periferia no horário nobre: o cômico, o deboche e a verdade em Avenida Brasil

Antes de você ler o texto abaixo, sugiro fortemente que clique no play e relembre aquele conto que ouvimos quando crianças.

Você lembra do conto do rei nu?

Pensar os produtos culturais dentro de padrões tradicionais e evolutivos, usando rótulos para se referir ao que é bom, aceito, e ruim, inapropriado, ainda é prática comum em nossa sociedade, mesmo que venha perdendo espaço para um posicionamento mais crítico. Diversos movimentos sociais e o aumento da escolaridade média da população têm gerado esses questionamentos e proposto um novo entendimento sobre os produtos culturais e as representações sociais.

Noções hegemônicas de influência iluminista e positivista, tais como o intelectualismo, o rigor científico e a vontade de controle da natureza, hoje convivem com aspectos populares enraizados em referências outras da “cultura popular”. Sabemos que a ação da ideologia e sua infiltração nas entranhas do cotidiano e das relações estabelecidas no plano micro do contexto social carregam consigo conteúdo dito “oficial”, cunhados dentro de um projeto de vida, de significações valorizadas e instituídas pelo jogo de poder entre as classes sociais.

O esforço feito através da doutrinação, do esforço educacional oriundo de referências hegemônicas marca o que é desvalorizado pela universalização, naturalização, preconceito e estereotipia discriminantes. A Educação, ferramenta do aparelho ideológico do Estado, conduz a formação das subjetividades, oferecendo conteúdos e direcionamentos desde a mais tenra idade, formatando o cidadão do futuro segundo os desejos da máquina reprodutiva ideológica. O objetivo é construir identidades e padronizar comportamentos. Todavia, o contraste e a diferença entre o “oficial” e o “popular” revelam as contrariedades da imposição hegemônica, a cooptação das subjetividades, o encobrimento das reais condições nas quais se estabelecem a organização e a dinâmica social. E, como forma de defesa dos dominantes, o cômico, o impulsivo, o caótico, vai aos poucos sendo incorporado dentro de seu conjunto de categorias possíveis, porém antes modificados, e oferecidos novamente à população no intuito de alienar, dividir e conquistar. Entretanto, essas incorporação nem sempre ocorrem pacificamente: Bakhtin descreve como elementos do “populacho” e do “oficial” acabam por se contaminar nas transversalidades das interações e dos enfrentamentos. Os elementos hegemônicos e os minoritários influenciam-se mutuamente e compõem o substrato da cultura referencial desses grupos, criando uma circularidade das referências.

[Ouça o comentário do Arnaldo Jabor sobre  confronto entre hegemônico e popular na novela Avenida Brasil.]

Formas de apreensão e oferta modificada de conteúdos “oficiais” visando a crítica, o deboche e o protesto das camadas populares são facilmente observadas na música, na literatura, nas festas populares. As brincadeiras de carnaval, por exemplo, mostram claramente as limitações dos papéis sociais, da lógica e do racionalismo em detrimento das paixões, da volatilidade. Quando a crítica direta e aberta não é um caminho possível, os subterfúgios da comicidade e do lúdico se encarregam de dizer ao rei que ele está nu.

Sugestões de leitura

Andersen, H.C. (s.d.) A roupa nova do rei. http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Roupa_Nova_do_Rei

Chauí, M. (1997). O que é ideologia? São Paulo: Brasiliense.

Fiorin, J. L. (1990). Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/55718632/FIORIN-Linguagem-e-Ideologia.

Pereira, F.N. (21/09/2012). Apenas palavras… Será? – A ideologia e o controle nas entrelinhas do dizer. https://wikiteacher.wordpress.com/2012/09/21/palavras-ideologia-controle-dizer/

Pereira, F.N. (18/05/2012). Ideologia e linguagem – Sorria! Você está sendo alienado. https://wikiteacher.wordpress.com/2012/05/18/ideologia-e-linguagem-sorria-voce-esta-sendo-alienado/

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Luta de classes, ideologia e controle social: um mal necessário?

 

Seja explicitamente ou nas entrelinhas mascarando a realidade, é inegável que um dos vocábulos mais controversos e discutidos na área das ciências humanas é Ideologia. Mas, afinal de contas, o que é ideologia? Será que precisamos mesmo de uma para viver, como cantou Cazuza?

 Vimos anteriormente que a cultura possui diversos itens que a constituem e que têm por função identificar os membros de um grupo e controlar seus comportamento através da criação de expectativas. É exatamente aí que entra a tal ideologia: ela é o conjunto de ideias representativo de um grupo, um projeto de vida, um projeto de comportamentos e visão de mundo adequado para os membros de um agrupamento social.

Ok… mas como fica Karl Marx e o entendimento de que a ideologia encobre a realidade?

Bem, sabemos que nos agrupamentos sociais, alguns membros se destacam e passavam a funcionar como representantes dos demais e/ou orientadores e mantenedores da ordem social. Quando este sub-grupo, que deveria representar e salvaguardar os demais, tenta impor uma perspectiva de realidade sobre as pessoas através de intervenções na cultura, no ambiente e nas interações sociais, podemos observar a inculcação de um ideal a despeito do interesse ou da demanda do grupo.

Dessa forma, os membros do grupo poderiam adotar comportamentos que interessam a uma parcela (os dirigentes) e não perceber suas intenções ou o que ocorre por trás daquela ação ou comunicação. Ao tentarmos analisar de forma crítica nossa situação social e ir de encontro às tentativas manipulação, observamos o que Marx e Engels chamaram de luta de classes, ou luta do oprimido contra o opressor – do proletariado contra a burguesia.

Quer ler mais sobre ideologia?

1) Sugiro o livro da Marilena Chauí O que é ideologia? que resume de uma forma simples e fácil entendimento a discussão sobre o termo.

2) Também vale a pena ler a coluna de Matheus Pichonelli sobre racismo, ideologia e cotas nas universidades.

Então… Será que precisamos da ideologia para viver?

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