Vimos anteriormente com Max Weber que podemos considerar diversos agentes sociais: o indivíduo, grupos, instituições de controle social, e até mesmo a sociedade como um todo. Esses agentes se relacionam, adequam o comportamento uns dos outros e fazem política.
Sim, eles fazem política! Como bem pontuado por Michel Foucault e Karl Marx, todo comportamento é político. Sempre. Isso acontece porque vivemos em relações que são inerentemente desiguais, seja por questões relativas ao acesso a informações, a recursos materiais ou a apoio de outras pessoas para nossas causa e interesses.
A marcação social do individualismo, do privado em sobreposição ao público, levam às lutas de interesses e desigualdades sociais. Como uma determinação material e histórica, também podemos afirmar que essas desigualdades inerentes às relações sociais podem ser minimizadas através de negociações, da política. Entretanto, não é de interesse de quem acumula vantagens negociar o acesso aos recursos para os demais. Mas, será que disponibilizar tal acesso não é interessante numa perspectiva de longo prazo? Voltaremos a esse ponto mais adiante.
No momento, vamos focar nos instrumentos usados para a manutenção dos interesses e da acumulação. O Estado, como descreveu Althusser, e qualquer outra autoridade tecnocrática, como as corporações, por exemplo, se utilizará de basicamente duas ferramentas a seu favor para o controle social: os Aparelhos Ideológicos e os Aparelhos Repressores. Seja pelo convencimento, seja pela força da coerção física, os comportamentos dos membros do grupo precisam ficar dentro do espectro de possibilidades disposto na ideologia vigente na cultura hegemônica.
Todavia, movimentos em contraposição ao esforço de controle da elite emergem continuamente. Se pensarmos nos três componentes clássicos do poder (força, autoridade e influência), é justamente o úlitmo o usado pelos que não têm acesso aos meios e modos de produção. A esses resta a influência por entre as brechas do sistema para tentar mudar a situação de controle e exploração.
Isso se torna possível, sobretudo, porque a referência central de poder não consegue se fazer presente a todos por todo o tempo. As áreas “descobertas”, fora da área de influência direta, revelam a tênue fronteira entre controle e anomia. Nesses espaços surgem grupos que se (re)organizam, criando práticas próprias, inclusive com aparelhagem repressora e ideológica.
Observamos nesses espaços marginalizados uma lógica contrária à observada na cultura hegemônica. Nesta, ocorre uma progressão histórica do poder físico, para a autoridade e posteriormente para a influência. Na micropolítica dos excluídos, o controle pelo abstrato deixa de ser uma tendência em prol da afirmação pela coerção física.
Mas, os excessos estão presentes em ambos os lados. A manipulação ideológica se apropria da subjetividade do indivíduo de tal maneira que ele faz qualquer coisa para manter a ordem social, cumprindo as prescrições de comportamento, chegando ao uso da violência para o cumprimento do dever e da ciência para justificar as naturalizações das construções sócio-culturais.
Assim como Max Weber apontou tipificações para as ações sociais, podemos considerar uma lógica similar para a dominação. Logo, Weber descreve a dominação em três formas: tradicional, carismática e racional. Se traçarmos um paralelo na tipologia weberiana com as corporações, chegamos ao seguinte resultado:
Dominação Tradicional => Hierarquia
Dominação Carismática => Influência / Ideológica
Dominação Racional => Burocracia / Legal
E, então?… Vale a pena dar acesso aos recursos à população?
Certamente, o acesso é intencional. Como nos submetemos ao controle e à coerção por entendermos que temos vantagens nesta situação ou que ela nos parece natural, o acesso aos recursos é uma maneira de barganhar e manter a exploração. O que não percebemos é que, talvez, poderíamos mudar o sistema produtivo, a forma de organização e viver outra realidade. Porém, o encobrimento do contexto real pela ideologia mascara a exploração e nos engana. O que nos é aparente é bem diferente do que acontece de fato…