Filosofia DIR – Aula 2 & Sociologia ADM – Aula 4: Formas de organização social

 Devido a correira do dia-a-dia, nem sempre paramos para pensar sobre como e porquê as coisas são como são. Temos a tendência de naturalizar comportamentos, cultura e outros produtos sócio-históricos, tornando-os acríticos e altamente alienados.
A organização social e seu entendimento também padece deste mesmo mal, sobretudo por falta de conhecimento ou reflexão sobre História. Diz-se que um povo que não conhece sua História corre grande risco de não saber planejar seu futuro e incorrer em riscos e erros desnecessários. Hoje, vamos apresentar aqui um pouco sobre o desenvolvimento da humanidade sob uma perspectiva sociológica e diversas formas de organização social adotadas ao longo da História.
Max Weber bem apontou que toda sociedade é produto das relações estabelecidas por seus membros, sendo o efeito recíproco tal qual, ou seja, as pessoas acabam por orientar seus comportamentos de acordo com a cultura e as expectativas inculcadas pela sociedade da qual fazem parte. Nenhum (ou quase nenhum) comportamento é plenamente arbitário visto que sempre estará se referenciando a uma cultura, seja para adotar práticas ideais ou para se desviar das normativas sociais.
Por outro lado, também não podemos simplesmente deduzir comportamentos a partir das normas e valores implícitos em uma cultura. Isto ocorre porque nos comportamos de acordo com nossa percepção, entendimento, reflexão e atuação dessas mesmas normas. Apesar de todo esforço de coerção para a coesão social, devemos considerar o processamento subjetivo da cultura na construção do comportamento como produto social.
Como afirmei na última aula, nos tornamos e nos mantemos humanos pelo convívio em sociedade. Aprendemos a sermos humanos a partir da ação de diversas Instituições de Controle Social (família, escola, Estado, autoridades jurídicas, mídia, entre outros). O objetivo geral da coerção exercida sobre nossos comportamentos patológicos (desviantes) é de adequá-los e aumentar a probabilidade de adotarmos comportamentos normais, mais próximos do ideal esperado pela sociedade. O comportamento desviante do membro de uma sociedade revela sua inabilidade em fazer o esforço coercitivo e socializar seus membros. [LEMBRE-SE que as noções de patológico, normal e ideal não são avaliações morais num sentido lato, mas sim referenciais culturais!]
Entretanto, não foi assim desde o início da humanidade – ao menos num início mitológico. Segundo Émile Durkheim, passamos por três grandes paradigmas ou estágios de organização social: 1) Horda; 2) Sociedade Natural; 3) Sociedade Civil ou Jurídica.
Na Horda, não observamos organização social ou qualquer sinal de humanidade. Seria um estágio animalesco da humanidade, no melhor estilo olho-por-olho-dente-por-dente, sem sociedade, no qual a barbárie prevalecia.
Vários autores afirmam a impossibilidade da existência humana fora de um grupo regrado, que se constitua como sociedade. Seja pela necessidade de cuidado da prole por parte de fêmeas, de caça e proteção de machos, da produção de bens e serviços para a sobrevivência e melhoria da qualidade de vida, a formação de agrupamentos humanos com um contrato social mínimo, implícito ou explícito, permite o surgimento das sociedades.
Quando falo de um contrato social mínimo, penso em algo com pelo menos três cláusulas: 1) não agressão; 2) cooperação; 3) divisão do trabalho e funções sociais. A partir da interação dos membros entre si e com o meio no qual vivem, suas experiências individuais e coletivas, implicadas pela orientação espaço-temporal advinda da divisão do trabalho e condições sensoriais e cognitivas, desenvolve-se a cultura e as formas de organização social.
Deste ponto em diante, observamos a constituição de uma Sociedade Natural ou do Estado de Natureza. São agrupamentos que pautam seu registro e comunicação acerca da produção cultural por meio de tradições orais. A sobrevivência destes grupos é possível, porém sua estabilidade encontra-se continuamente comprometida e em risco pela dificuldade de manter e garantir regras comuns e definidas de sobrevivência e convivência.
Com o aumento do número de membros do grupo e a complexificação da divisão do trabalho e papéis sociais, chega um momento inevitável de transição da tradição oral para uma paradigma de tradição escrita ou de positivação. A instituição de convenções num sistema escrito permite a regularização, a regulamentação e a comunicação destas normativas entre os membros de um grupo de forma a diminuir os contratempos com desvios comportamentais, processuais de coerção e manutenção da organização social. Logo, fica mais fácil divulgar as expectativas de comportamento, cobrar tais premissas e identificar desvios.
P.S.1: Durkheim também analisou a divisão do trabalho e o estabelecimento de vínculos de solidariedade. Formas diversas de organização social trazem vantagens e desvantagens para seus membros. Mas, esse é assunto para uma outra aula.
P.S.2: Um ponto importante para tomarmos cuidado é diferenciar formas de organização social num sentido lato (horda, sociedade natural, sociedade civil) com formas produtivas-políticas (capitalismo, mercantilismo, imperialismo-colonialismo, escravismo, socialismo, comunismo, etc).

4 Comentários

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4 Respostas para “Filosofia DIR – Aula 2 & Sociologia ADM – Aula 4: Formas de organização social

  1. GLÓRIA DA PENHA EDUARDO

    Como dizia meu amado Pai (in memorian), quando morávamos na roça: Não temos acesso ao que realmente acontece lá fora, sem informação. Ainda vamos embora daqui.” Hoje, já moramos na Grande Vitória, mas não o tenho mais. Que saudade daquele tempo em que após o banho sentávamos para conversarmos ganhando aprendizagem e conhecimento de nossos antepassados ou ouvirmos a Voz do Brasil. Minha idade na época – 05 anos, hoje com 36 anos. Naquela época as coisas eram assim, ou melhor, as pessoas faziam com que as coisas acontecessem desse jeito. Hoje em dia tudo mudou, somos empurrados por uma sociedade a seguir determinadas regras em prol da defesa dessa mesma sociedade. Mesmo com tantas regras pecamos, somos impacientes e nem sempre aceitamos os fatos realmente como são. Batemos de frente com tantas regras. A meu ver não é difícil viver em sociedade, basta termos sabedoria, discernimento, coragem e muita vontade de superar os desafios que vem pela frente respeitando sempre o espaço do outro. Falar na hora certa e na hora errada também, quem sabe seja um meio para que nos ouçam. Viver em harmonia e em conjunto a fim de um objetivo comum. Independente de crença, precisamos sempre estar em Família e trabalharmos com companheirismo nas nossas atividades profissionais.
    Que bom seria se assim fosse!!

  2. Charles Lechi Cravo

    Interessante como surge uma serie de pautas, quando o assunto e sociedade, e mais interessante, e quão diferentes elas parecem mesmo se tratando sempre do mesmo assunto.
    O ser humano tende a crer em alguma coisa, seguir alguma coisa, seja instintivamente, seja por cultura e tradições, seja por força legal. A verdade é que nós somos, pré-programados a andar sempre em função de um ponto definido, por nós ou por alguem noqual tenhamos confiança, um norte, normas, padroes, regras estabelecidas, etc.
    Um bom exemplo são os realities shows, ( me perdoem quem goste,SEPULCRO CAIADO) que mostra pessoas de todos os tipos, crenças variadas, estudadas ou não, mas que no final, querendo ou não acabam submetendo -se a regras em alguns casos desumanas, que induzem ou produzem, aquilo que para o realitie e importante, a discordia entre os participantes. E o que é pior, isso é o que gera audiencia, as pessoas que conseguem assistir a esse infeliz tipo de programação, perdendo seus preciosos minutos de vida, estão justamente, querendo saber, qual ou quais dos participantes, pior se enquadrão dentro dos padrões pre-estabelecidos pelos organizadores, que por sinal creio eu que ninguem sabe qual é, acabe por perder o controle e gerem contendas, intrigas, espondo suas vidas ao mais extremo do ridiculo, talvez indo contra os proprios principios, influenciados por regras que são desconhecidas até mesmo por eles.
    Mas o certo, é que não ha como viver harmoniosamente numa sociedade sem regras, isso e fato, principalmente por que as pessoas são acostumadas a respeitar, responder e reagirem melhor aquilo que lhes são impostos, estranho não, mesmo que alguem discorde do que acabei de escrever, basta avaliar friamente, que acabaram por concordar com isso, logico que não é geral, para tudo existem as exceções, mas diria que a maioria absoluta.

  3. fernando aris

    FERNANDO ÁRIS
    18/03/12 – PRIMEIRO PERÍODO DE PEDAGOGIA

    Primeiramente, muito bom, legal, dinâmico, extenso e diverso o conteúdo que compôe seu blog… Viver em sociedade: é o que nos mantêm humanos. Durante muito tempo da minha vida eu vivi numa sociedade rudimentar onde a educação, o saber e as tradições eram hereditárias e sempre passadas da mesma forma. Nunca me passava pela mente que um dia isso iria mudar ( por exemplo: que hoje estaria aqui digitando num computador, algo improvável e muito distante da nossa realidade). Mas nem por isso não nos deixamos de viver socialmente.
    Nossas tradições, culturas, crenças… eram passadas ao ar livre, de preferência em noite de lua cheia (pra deixar a gente de cabelo em pé). Sentávamos no terreiro em forma de uma roda e ali acompanhávamos as histórias, lendas, crendices e todo o saber de nossos ancestrais e dos mais velhos. Era uma forma de manter viva nossas tradições e um meio de ensinamento. Sem registros verdadeiros mas era assim que aprendiamos muitas coisas. Era até bem legal.
    Isso é o que acontece com cada grupo de um determinado lugar. Cada um tem uma forma de passar seus costumes e seu saber. Uma sociedade hoje em dia “não funciona” devido a todos quererem mandar, todos sabem e não tem ninguém para ouvir ( ou ninguém quer ouvir). Muitas desigualdades sociais devido má formação, má informação, má distribuiçao e má governantes. Como mudar esse quadro? Eis a questão! A sociedade hoje em dia está muito diversa e complexa más ao mesmo tempo muito confusa e difícil de entender. Bom seria se encaixasse todos os pingos nos “I(s)”… A sociedade vive hoje da exploração dos próprios homens que as compõem. De forma banalizada e sem se importar com o ser. E pior que todos concordam com isso e, dependendo, acham até legal.

    • Fernando,

      Obrigado pela leitura e participação! Espero que a experiência de discutir “em praça pública” seja proveitosa para todos nós.

      Obrigado também por compartilhar conosco sua experiência e percepções sobre os temas abordados aqui.

      Abraço,
      Fábio

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