Além do trabalho: life design, educação, carreira e micropolítica

Vivemos numa cultura na qual é comum nos remetermos ao trabalho como parte essencial, senão a mais importante, de nossas vidas. mas, será que foi sempre assim? Será que outras culturas também representam o cotidiano produtivo da mesma forma?

Passamos nossas vidas ocupados em produzir, pagar contas e, sobretudo, consumir e acabamos por nos esquecer de parar para refletir qual a razão de tudo isto. Digo, quais são nossos propósitos e nossas intenções em vida. Diversos autores e personagens, sejam eles filósofos, psicólogos e até mesmo teólogos, poetas, músicos e boêmios, inclusive você e eu, já se perguntaram as motivações que nos levam a tomar certas atitudes e as justificativas para a forma como encaramos a vida.

Bem, se você ainda não reservou um tempinho para fazer isso, é possível que esteja levando uma vida, ou como diria o músico, boêmio e poeta, a vida é que está te levando. Às vezes é confortável deixar a vida nos levar, porém pode ser também uma emboscada. Deixar a vida te levar é abdicar de seus desejos e não saber para onde se vai. Não sei se você não se importa com seu destino, mas creio que muitas pessoas queiram ao menos ter uma noção da direção que está seguindo ou onde podem chegar os caminhos percorridos em vida.

Se você ainda está lendo este post, talvez tenha se lembrado do título e se perguntado o que ele tem a ver com o que estamos aqui discutindo. Nos deteremos a falar disso então. A cultura hegemônica prega que o trabalho é parte essencial da vida e talvez ele o seja num sistema produtivo capitalista industrial. O que esquecemos de debater abertamente é o que faremos se enfim alcançarmos um ponto de inovação tecnológica tal que nos organize numa sociedade na qual as máquinas farão a maior parte do trabalho e nós teremos tempo livre de sobra.

Uma forma de resolver tal problema foi o desenvolvimento do que chamamos indústria do entretenimento, e aqui incluo tudo que nos distrai e preenche nossas vidas, tanto de forma ativa como passiva. A indústria do entretenimento tem produzido vários postos de trabalho até o momento, todos voltados para a criação de bens imateriais e ideológicos. Nesta indústria pós-moderna, podemos incluir as produções midiáticas (impressa, televisiva, radiofônica, hipertextual – mais conhecida como internet e seus desdobramentos -, entre outras), os esportes, serviços relativos a lazer, turismo e diversão.

Convergimos para uma possibilidade produtiva no qual o trabalho mecânico será realizado apenas ou em grande parte por maquinário. Assim, as pessoas ou migrariam para a tal indústria do entretenimento, ou para a educação, para a política ou para a ciência. O que une todas elas na discussão a qual me proponho com você é a educação e novas concepções de carreira.

A educação tem um papel fundamental na formação humana, tanto na transmissão do conhecimento acumulado ao longo das gerações como na informação sobre assuntos cotidianos e na construção de um contexto de reflexão e formação cidadã. Ela tem se adaptado (ou não) às demandas sociais e produtivas por formação de cidadãos para um novo mundo, um novo sistema produtivo.

Neste novo paradigma socioeconomicocultural, devemos pensar além do trabalho e das carreiras enquanto sequência de empregos. Diversos autores da área de Psicologia Vocacional, Organizacional e do Trabalho tem apontado como nas últimas duas décadas migramos do entendimento para além da concepção de carreira objetiva (vinculada ao exercício laboral-ocupacional), em direção à percepções mais subjetivas (vinculadas a como percebemos nossas contribuições à sociedade e ocupamos nosso tempo).

Neste sentido, surgem conceitos que tentam redescobrir a reflexão sobre a maneira como as pessoas enfrentam o desafio existencial de estar/ser-aqui-no-mundo e criar significados pessoais e coletivos. Intervenções voltadas para life design recuperam concepções que buscam colocar a pessoa novamente no centro das questões ao invés de tentar adaptá-la ao mundo do trabalho ou a um posto ocupacional específico.

Aqui entra a educação, pois ela não só cumpre um papel informacional, mas também conformante e instrucional. A educação forma pessoas e as prepara para a vida em sociedade. Se nossas sociedade está mudando, a educação também deve mudar.

Se você, caro leitor, é curioso e ainda está aqui comigo nesta discussão, talvez também se pergunte sobre a razão da expressão “micropolítica” estar presente no título. Todo comportamento social, e todo comportamento é social, senão psicossocial, é resultante de uma gama de negociações feitas cotidianamente. Tudo é política. Micropolítica, assim eu digo, por se fazer nas pequenas escalas das interações humanas.

Mudar a educação, as concepções de carreira e as formas de intervenção para esse novo paradigma emergente também é política, é negociação. E volto a frisar, precisamos começar a pensar além do trabalho. Ou ao menos, do conceito moderno-capitalista-ocidental de trabalho, porque, afinal, o mundo não é mais o mesmo. Precisamos de novas pessoas para um novo mundo.

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4 Respostas para “Além do trabalho: life design, educação, carreira e micropolítica

  1. Pingback: Administração e Sociedade – Misturando tendências e tradição | Prof. Fábio Nogueira et alii

  2. Mediante o trabalho remunerado o homem modifica o meio, transforma o habitat, cria as condições de conforto.
    O homem teme enfrentar situações novas e isso é natural até certo ponto. Alguns podem ser levados a desenvolver comportamentos que os remetem ao pessimismo, manifestações de mágoas, ressentimentos. Estes comportamentos têm sua origem no receio do trabalhador de não conseguir adaptar-se as mudanças que ocorrem com certa freqüência nas organizações empresariais.
    Muitos trabalhadores sofrem por não conseguirem durante anos de tentativas alcançarem uma situação de empregabilidade. E quando conseguem geralmente é por pouco tempo.
    O homem deve trabalhar sim, isso é necessário, mas também deve buscar o auto-desenvolvimento através da educação continuada que poderá ser muito útil em tempos onde o emprego diminui com o advento de novas tecnologias. Porém não deve o trabalhador fazer de seu trabalho seu sonho, sua vida, seu modo de perceber-se como um homem digno, honrado.
    Hoje, fala-se muito em qualidade de vida. Qualidade de vida são escolhas. Escolhas para desenvolver hábitos saudáveis físicos, mentais, emocionais e espirituais. De que adianta malhar na academia três vezes por semana e continuar fumando? Ou morar em um condomínio bucólico e ser um estressado crônico?
    Por isso, qualidade de vida é algo individual. Existem pessoas que não conseguem viver em locais distantes e calmos, que não freqüentam academias e que nem por isso deixam de trabalhar com prazer. O que precisamos, em realidade, é saber manter um equilíbrio e não cometer excessos.

    Dyogenys
    Ciências Contábeis

  3. Paulo Roberto dos Santos - Direito - 4º período

    Dentro do grupo social as pessoas estipulam objetivos para suas vidas, quer acumulando conhecimentos, quer acumulando bens de consumo. Tais ações ocorrem de forma competitiva. Quando o indivíduo pensa ter alcançado sua meta, entende que está defasado e daí começa nova etapa, gerando um círculo vicioso para manter seu status. O homem está sempre buscando nivelamento social e nessa busca o entrenimento deve fazer parte da sua existência, para interagir com o meio e consequentemente obter melhor qualidade de vida. A globalização “obriga” o homem a evoluir, pois ele se sente responsável por conquistar e aprimorar sua condição social.

  4. Mateus Teixeira

    Vivemos igual “maquinas”, motivados a produtividade no trabalho, sendo apenas diferenciados de “maquinas” em alguns pontos, porque controlamos um pouco de nossas atividades. Este conceito já è antigo desde o século XVIII, período em que se da inicio a Revolução Industrial, começam a surgir os primeiros inventos mecânicos para a industria. Onde se começa a transforma energia física em energia mecânica. E apesar de hoje vivermos em um mundo globalizado e de plena evolução, somos submetidos ainda a um sistema produtivo capitalista industrial. Mas estes conceitos, estão sendo mudados, com a contribuição da educação para a formação humana, visando mais a era do conhecimento do que a era da informação, ou seja, é necessário que as pessoas se adequarem a uma educação continuada, tendo visão generalista e ceifando criatividade. Isto contribuirá para que as pessoas vivam no mercado de trabalho, sem se atrelar completamente ao trabalho.

    Mateus Teixeira
    Ciências Contábeis

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