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É normal todo mundo ter uma compulsão?

É preciso saber a diferença entre hábito, mania e compulsão

RENATA LACERDA | rlacerda@redegazeta.com.br
O professor Gilcinélio Serafim, 40, não vive sem um doce. Para estudar ou trabalhar, tem sempre uma bala, uma paçoca ou uma jujuba por perto. “Só tenho sensação de bem-estar se comer um doce, não importa qual. Mas tenho medo do diabetes”, conta. Para Gil, como é conhecido, seu problema é compulsão por doce. E, ao falar do ‘problema’ com outras pessoas, sentiu que o relato não era tão raro…

Seu amigo, Júlio César dos Santos, 51, toma de 5 a 7 banhos por dia. “Muita gente considera excesso, mas sou assim desde pequeno e não atrapalha minha vida, só ajuda”, garante. Já a vizinha Maria de Fátima Viana Costa, 60, assume que tem mania de limpeza. “É o tempo todo, não paro um minuto desde a hora que acordo. Lavo banheiro todo dia. Operei a coluna, e o médico brigou para eu parar. Estou mais devagar, mas não parei”, confessa.

Foto: Gabriel Lordêllo

 Gabriel Lordêllo

O professor Gilcinélio, 40, não vive sem um doce por perto

Compulsão por doce, limpeza, compras, sexo bebida… A lista é grande e parece difícil não se identificar com alguma coisa. Foi aí que surgiu a dúvida: compulsão é algo que faz parte do ser humano? Todo mundo tem alguma? VIDA foi atrás da resposta.

Diferenças

O psicólogo e professor do UNESC Fábio Nogueira explica que o que muita gente chama de mania e compulsão é, na verdade, um hábito aprendido e adquirido ao longo do tempo. “Mania é um transtorno de humor. Compulsão é algo que fazemos para cumprir um pensamento automático, obsessivo, que não se consegue controlar. Na compulsão, eu fico preso a um ciclo repetitivo, e isso causa muito sofrimento”, explica.

Ele lembra que, por mais difícil que pareça, se a pessoa quiser, pode modificar os hábitos ou substituí-los por outros mais saudáveis, mesmo sem qualquer ajuda profissional. Mas, mesmo nesses casos, procurar ajuda de um psicólogo, médico ou nutricionista, por exemplo, pode facilitar esse processo. “Tudo depende do incômodo que a pessoa sente ou do prejuízo que este hábito causa”, diz.

Entenda as diferenças

Mania

Popularmente
No nosso dia a dia, falamos que temos uma mania para nos referir a um hábito, algo que costumamos fazer com alguma frequência. Por exemplo, quando digo que tenho mania de tomar café após o almoço

Psicologicamente
Para os psicólogos, mania é um transtorno de humor ligado à excitação. Por exemplo, quem tem transtorno bipolar alterna fase de mania e fase de depressão

Compulsão

Popularmente
Quando a mania é tão forte que parece ser difícil abrir mão dela, dizemos que temos compulsão. Por exemplo, alguém tão acostumado a comer doce que vai sentir falta se ficar sem ele

Psicologicamente
A compulsão está ligada ao pensamento obsessivo que gera muito estresse e ansiedade. A única forma de aliviar estes sentimentos é fazer atividades repetidamente – é um ciclo que não termina nunca. Por exemplo: sinto que, se não tomar banho, algo muito ruim vai acontecer, mas ao me enxugar, já sinto esta ansiedade novamente, e os banhos se tornam repetitivos e atrapalham a sua rotina

É normal?

Todo mundo tem?
Todos temos hábitos que se repetem (chamados de mania), mas nem todo mundo tem compulsão – este é um distúrbio que precisa ser tratado

Quando tratar?
Hábito, mania ou compulsão podem ser tratados quando atrapalham a vida de alguma forma ou trazem problemas para a pessoa – a compulsão sempre trará sofrimento

Como tratar?
Hábitos são aprendidos ao longo do tempo e, até sozinhos, podemos aprender hábitos novos ou substituí-los por outro mais saudável. Para hábitos mais antigos, difíceis de mudar, pode ser interessante buscar ajuda de um psicólogo, nutricionista, médico ou mesmo personal trainer. Já a compulsão e a mania são distúrbios que precisam ser tratados com terapia e/ou remédios, dependendo do caso

Fonte: A GAZETA

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As crianças também ficam deprimidas?

Depressão na infância não é manha da criança e merece atenção da família

 

Concordo plenamente com a postura que os profissionais de saúde estão adotando na França para enfrentar os distúrbios de comportamento [leia mais aqui: http://equilibrando.me/2013/05/16/por-que-as-criancas-francesas-nao-tem-deficit-de-atencao/].

Um meio social saudável, boas condições de moradia, alimentação, educação e acesso a serviços de saúde são pontos chave para nosso desenvolvimento orgânico, social, afetivo. Fico muito incomodado com o biologismo exacerbado que temos no Brasil, com a medicalização precoce a partir de diagnósticos superficiais e a estigmatização.

Grande parte de minha demanda em consultório se resumiria em famílias nas quais as crianças recebem atenção de má qualidade dos cuidadores, com agendas esportivas e acadêmicas dignas de executivos à beira de um infarto, alimentação péssima e sem rotina de sono.

Seria muito mais “fácil” dizer que a causa é orgânica e medicar, mas as origens dos distúrbios de comportamento são uma questão de saúde mais ampla e complexa, devendo receber uma abordagem contextualizada. A questão maior da clínica infantil e da criação das crianças é como os adultos podem (e devem) criar um ambiente saudável para o desenvolvimento desta pessoa. Entretanto, a família, o governo e a sociedade de modo geral, está tão imersa num paradigma biologicista e medicamentalista, que a primeira opção, infelizmente, tem sido o uso de medicação, seja por adultos, seja por crianças.

Veja entrevista minha com Carlos Leite no Café com Leite.

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